Segunda etapa do Encontro Anual de Ferrovias do Brasil Central explora modal como potencial de integração nacional

O Encontro Anual de Ferrovias do Brasil Central, realizado no auditório da Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) nesta quarta-feira (8/5) teve sua segunda etapa dedicada à discussão do modal como ferramenta de integração. Com esse propósito, quatro outros palestrantes de renome nacional compareceram para explorar a temática também sobre o viés dos requisitos para implantação e sob o prisma comparativo de normas técnicas com projetos rodoviários.

No quarto painel, o gerente de relações institucionais e governamentais da VLI Multimodal, Fernando Kunsch, apresentou as vantagens da integração ferroviárias com outros sistemas de transporte no Brasil. Segundo ele, é possível otimizar a capacidade logística com o modelo que liga fazendas e estações de produção a terminais multimodais por meio de rodovias. 

“Caminhões levam a produção até os terminais multimodais e lá a carga é preparada para o transporte ferroviário que a levará aos porões dos navios nos portos, por onde escoam por meio de hidrovias. O sistema funciona na ida aos portos e na volta às fazendas, levando produções e trazendo insumos para beneficiar toda a cadeia produtiva”, detalhou.

Cortado pela Ferrovia Centro Atlântica e pela Norte-Sul, Goiás é, para Kunsch, um estado privilegiado, embora ainda enfrente desafios no quesito integração. “Goiás tem sua própria legislação (lei 21.882/23).Isso é importantíssimo, o primeiro passo para escoar as produções da forma mais eficiente possível. No entanto, é importante pensar na conexão destas com hidrovias e terminais intermodais que dão suporte fundamental à integração e aumentam a importância da malha ferroviária”.

IMPLANTAÇÃO DE FERROVIAS

A quinta exposição, conduzida pelo assessor especial da Goinfra, Willian Benke, detalhou o processo de solicitação de autorização para a implementação de ferrovias. Segundo ele, a legislação 21.882/23 esmiúça os requisitos para o pedido, que vão da manifestação de interesse da iniciativa privada com preenchimento de formulário no site da Goinfra, seguida por submissão de documentos, chamada pública, análise técnica e deliberação da diretoria da autarquia.

O sistema de Ferrovias pode ser acessado na página inicial do site da Goinfra, na aba Áreas de Atuação, ou pelo link: https://sfe.goinfra.go.gov.br/. Após cadastro e login, o candidato terá acesso à página de solicitações, onde um formulário exige descrição da solicitação, latitude e longitude de início e fim do trecho e espaço para submissão de arquivos necessários para que o pedido tenha sequência. Depois de iniciado, o solicitante pode acompanhar o andamento do processo avaliativo no próprio sistema.

“A implantação de ferrovias é um desafio para o governo e para a iniciativa privada, mas representam oportunidades e soluções de logísticas que culminam em desenvolvimento socioeconômico. Linhas curtas em ligações com polos industriais e de produção podem ser os melhores caminhos para se atender demandas específicas de forma mais célere”, explanou Willian. 

FERROVIAS E RODOVIAS

No sexto painel do evento, representantes da Strata Engenharia liderados por Valter Barrueco expuseram comparativos detalhados da concepção matricial de normas técnicas de projetos rodoviários e ferroviários. Uma das diferenças fundamentais está no serviço de superelevação.

"Na construção rodoviária, a superelevação ocorre desde as camadas de terraplenagem. Na engenharia ferroviária, acontece acima do lastro, somente no trilho externo. Não existe superelevação constante como no traçado rodoviário", comparou. 

Valter ainda ressaltou que não se usa terra armada em construções ferroviárias por questões de vibração e ressaltou outras diferenças. Conforme explicou o especialista, apesar de terem implantação mais caras, ferrovias representam redução de gastos no longo prazo.

"Como as rampas são bem diferentes das rodoviárias, isso empreende em obras obras muito grandes, grandes contenções, grandes pontes, túneis e isso encarece muito. Em contrapartida, ferrovias representam capacidade de transporte muito maior, com condições de preservar e reduzir custos com manutenção de rodovias", disse Barrueco.

LOGÍSTICA INTEGRADA

Eduardo Ladeira Ávila representou a Petrobrás no último tópico do encontro, que retomou a discussão sobre ferrovias e integração. A empresa, que utiliza mais o modal hidroviário, avalia expandir os investimentos na integração multimodal em razão, principalmente, do crescimento do consumo de combustíveis no Centro-Oeste. Exemplo desse comportamento é o aumento de 44% na aquisição de diesel em Goiás entre 2016 e 2024. 

Segundo Bruno, a integração feita pela Petrobras atualmente é representada pelo transporte rodoviário e ferroviário das plataformas aos terminais e destes aos portos. “Percebemos que, no Brasil, a logística é significativamente menor em comparação com mercados mais maduros encontrados nos EUA, União Europeia e China. Temos um grande potencial de crescimento e verificamos crescimento vertiginoso no Centro-Oeste. Isso significa otimização de custo e redução de riscos na queda no nível do serviço”.

Para o representante da Petrobras, o assunto expansão ferroviárias ficou estagnado por mais de uma década, mas finalmente avança impulsionado pelo crescimento da região Centro-Oeste. “Fico feliz de ver gente discutir o assunto ferrovia. Há 15 anos, os problemas eram os mesmos: dificuldade de regulação, dificuldade de manter carga contínua em grandes volumes. Naquela época, porém, não tínhamos encontros como esse para promover a transformação que precisamos. O crescimento do centro-oeste é que puxa esse tipo de iniciativa”, concluiu.  

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